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Rafaelas e Giseles

  • Juliana Doyle
  • 23 de ago. de 2016
  • 3 min de leitura

Rafaelas e Giseles

Agosto de 2016

“Negra, pobre e homossexual, a primeira medalhista de ouro das olimpíadas de 2016 deu um tapa na cara da tradicional família brasileira”. Comentários como estes inundaram as redes sociais acerca da conquista olímpica da nossa Rafaela Silva, filha da Cidade de Deus, que comeu o pão que o diabo amassou, foi chamada de macaco nas Olimpíadas de Londres e quase abandonou a carreira de judoca. Provavelmente vou gerar polêmica, mas a adjetivação conferida à atleta me incomodou.

Em tempos de embates entre nós e eles, petralhas e coxinhas, esquerdopatas e membros da direita radical, feministas e machistas, defensores da cultura pop e os ditos eruditos intelectualoides, a vitória de Rafaela que, em princípio foi simplesmente uma vitória esportiva, inflamou os ânimos dos ativistas políticos (que agora somos todos) e levou a uma série de interpretações sem limites... Arrisco mesmo dizer que insuflou um fenômeno que já me incomodava há um tempo. Uma espécie de preconceito às avessas. Em outras palavras, se você não se enquadrar em nenhuma das ditas minorias (negros, homossexuais, mulher ou pobre), não levantar bandeiras feministas, não andar com o Che Guevara estampado na camiseta, não for à praça protestar com os seios de fora, de nada valerão seus esforços e conquistas. Afinal de contas a meritocracia é uma grande bobagem, não é?

Estou sentindo falta do caminho do meio, de pessoas que sejam reconhecidas por terem chegado aonde chegaram por que souberam escolher o caminho da honestidade, da resiliência, do trabalho, da disciplina. Nossa judoca de ouro teve sim uma trajetória de luta, teve que “comer grama”, dar o sangue. Mas ela poderia ter se rendido ao baile funk, à composição de letras esdrúxulas que geram milhões (Por que meu Deus? Por quê?), a viver do “rebolation”. Mas não. Ela entrou para a marinha, agarrou-se na família, venceu por meio do judô, arte marcial milenar que significa “caminho da suavidade”. Ela escolheu o caminho das pedras, deu sangue suor e lágrimas, não se rendeu ao preconceito. Mas daí a pensar que também tinha como objetivo “dar um tapa na cara da tradicional família brasileira”? Me recuso a acreditar nisso.

Da mesma forma que admiro infinitamente a conquista de Rafaela, faço minhas reverências à nossa Gisele, que fez o mundo babar na noite de abertura dos Jogos Olímpicos. Ora! Se segundo os avessos à meritocracia, o que determina o sucesso é o “berço”, por que será que todas as outras meninas lindas, loiras, altas, magras, de origens germânicas estão por aí vivendo suas vidinhas mundanas como meras mortais? Reconheçamos sim que foi também com sangue, suor e lágrimas, dedicação, disciplina, humildade e resiliência que nossa musa chegou aonde chegou. Obviamente seu caminho foi infinitamente mais suave e glamoroso! Mas daí a falar que a conquista de um é tapa na cara do outro? Acho que não é por aí.

Enfim, para atualizar minha crônica que ficou esquecida no forno desde a abertura dos jogos olímpicos, vou encher meu peito de orgulho para falar o seguinte. Foi lindo gente!! Depois do Rio 2016 o Brasil voltou a parecer um país possível. A experiência multicultural proporcionada me emocionou (e fez brotar em mim uma vontade louca de me matricular na mais próxima academia de natação...). Assistir às mulçumanas de burkini dando um show nas nossas praias em tempos de xenofobismo e nacionalismo exacerbado foi - (aí sim )– um tapa na cara das nações que querem se fechar ao fenômeno da globalização. Ver os canadenses que passam mais da metade o ano no escuro congelante daquele lindo país dar um olé nos brasileiros no voley de praia, foi sensacional (claro que torci, e muito para o Brasil, mas que foi legal, foi!). Ver as carinhas de fascínio dos atletas pela vibração única da nossa torcida me arrancou lágrimas. Nem a mentira dos nadadores norte-americanos (ops! Estadounidenses) ofuscou o brilho da Rio 2016. Acho que eles queriam ter uma historinha “brasileira” para contar.... Viver a experiência “tupiniquim” por completo...


 
 
 

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