Tristeza tem fim...felicidade também
- Juliana Doyle
- 22 de nov. de 2015
- 3 min de leitura
Tristeza tem fim... felicidade também
Juliana Doyle
“A depressão é o mal do século...”. Frasesinha batida, não? Mas será mesmo que somos mais tristes que nossos pais e antepassados? Acredito que não. E mais ainda, ouso corrigir a frase. A busca incessante pela felicidade é o mal do século.
Sempre fui fã incondicional dos filmes da Pixar, mesmo antes de ser mãe. Aliás, arrisco dizer que a genialidade das produções as torna mais atrativas aos adultos do que às crianças que, ainda inocentes, não alcançam as mensagens ora subliminares ora escancaradas que nos são transmitidas. A animação “Divertidamente” (Insideout - título bem mais adequado) arrancou-me lágrimas e me encheu de inspiração.
Se ainda não assistiu à animação, insisto que o faça e convide seus filhos, netos, pais, avós... A trama gira em torno da história de Rilley, uma garotinha que viveu seus primeiros 12 anos na colorida Minessota, na mesma casa, cercada pelos mesmos amigos e carinho e atenção incondicionais dos pais. Até que um dia, vê-se obrigada a se mudar para a acinzentada São Francisco. Passa então a lidar com um pai muito mais ocupado, nova escola, novo clima, longe das pistas de gelo onde costumava praticar seu esporte favorito, o Hockey. É a partir daí que somos convidados a viajar por dentro da personagem e acompanhar o desenrolar da trama em torno das também “personagens” Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e a estrela da vez, Tristeza.
Vendo seu mundo desabar, Rilley, que está triste, vê-se obrigada a mostrar para seus pais que está tudo bem. Afinal de contas, as crianças têm duas simples obrigações: crescer e ser feliz o tempo todo, não é? Ora! Elas ainda não descobriram que a vida é dura, que trabalhar às vezes é chato, que não dá para dormir o tanto que queremos, comer o que desejarmos, que casamento é lindo, mas tem dias que...., que no final do dia as pernas doem e a cabeça idem...Mas enfim, voltando ao filme, Rilley, se recusa a sentir tristeza e acaba ficando apática. A alegria e a tristeza vão embora para bem longe da sala de comando. E Rilley vai se arrastando da casa para a escola, da escola para a casa.
Na era do Facebook, do Instagram, do Tinder e do que mais esses gênio inventem (por que não tive uma idéia assim?...) somos obrigado a sermos absolutamente felizes, a termos vidas interessantíssimas, a escancararmos sorrisos nas telas do computador e do celular 365 dias por ano. Faça chuva ou faça sol! Em rodas de conversas é proibido reclamar, é proibido sentir tristeza. As regras são: seja positivo, seja otimista, seja forte, seja belo, seja magro, viaje, sorria! No matter what! Ai como cansa!! Será que sou só eu que às vezes fico triste, que às vezes quero ficar na minha ou que às vezes quero sentar com as amigas para dar uma choradinha básica. E será que sou só eu que se sente uma E.T. quando resolve escancarar uma “tristezazinha” (ou “tristezazona”) aqui e outra acolá? Dizem as más línguas que a depressão foi promovida a doença pela indústria farmacêutica. Sei que a doença é séria, mas tenho cá minhas dúvidas sobre o excesso de pessoas deprimidas no mundo... Tá triste?... Pílula da felicidade. A criança tá agitada, pílula pra dopar e fazer “concentrar”. Não consegue dormir? Pílula sonífera. Tá dormindo demais? Carboidrato na veia!
Voltando à nossa animação, o amadurecimento de Rilley se dá quando a tristeza é resgatada e por ela abraçada. Ela passa a entender que é preciso haver um equilíbrio entre as emoções. Ninguém é infeliz o tempo todo. E ninguém é feliz o tempo todo. Aliás tenho cá minhas desconfianças daquelas pessoas constantemente felizes, eufóricas, cujas vidas é eternamente cor-de-rosa (Conhece alguém assim? Deu uma preguicinha? Então você é da minha turma...)
Há dias de sol, de pura alegria. Há dias de chuva, de recolhimento, Há dias de muitos raios e trovoada – raiva, muita raiva! Há dias escuros, de medo, insegurança. E há aqueles dias loucos em que todas as condições climáticas se revezam em períodos curtíssimos. Esses dias são mais comuns no planeta feminino... Mas a questão é a seguinte. Tudo passa! E se vivermos esperando somente momentos felizes e de glória, perderemos a delicadeza e o amadurecimento que as demais emoções podem nos proporcionar. Vamos tentar? Walt Disney costumava dizer que “para cada risada deve haver uma lágrima”.
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