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Querido smartphone

  • Juliana Doyle
  • 23 de ago. de 2016
  • 2 min de leitura

Já faz três dias que você me abandonou. Apagou sem avisar. Não respondeu a nenhuma das minhas tentativas de renovar suas baterias, te proporcionar novos ares... Escolheu desistir da minha companhia... Estou reaprendendo a viver sem sua presença constante bem aqui na palma a minha mão. O primeiro dia foi de um vazio sem fim. Uma sensação de que o mundo estava acontecendo paralelamente à minha existência e que eu jamais seria capaz de me botar a par do que se passa com minha família, meus amigos. Pânico de não conseguir me lembrar da minha agenda, de consultas médicas, festa de aniversários e de não ter a menor idéia sobre qual seria o próximo item a ser eliminado da minha pretensiosa, pois longa demais, lista de “lembretes”.

No segundo dia devo te confessar que acordei mais leve. Será que foi por que finalmente dormi sem o embalo daquela sua insuportável luz azul que devia transmitir ondas eletromagnéticas nada favoráveis ao tão necessário sono reparador? Ou será que foi por que passei o dia vivendo. E quando digo vivendo me refiro ao fato de que presenciei a olho nu as primeiras pedaladas “sem rodinhas” do meu pequeno, dirigi sem dar aquelas olhadelas nos grupos de whatsapp a cada cinco minutos que, se não colocavam a minha vida e as dos demais motoristas e pedestres em risco, na melhor das hipóteses estavam me causando muita dor no pescoço e muita, muita ansiedade. Ou será que foi por que nesse três dias li um livro inteiro, brinquei com meus filhos sem interrupções, li revistas de papel, assisti TV até adormecer no sofá, não me senti obrigada a responder mensagens que podem esperar um encontro real, escutei muita música, cozinhei e escutei a voz de pessoas queridas ao telefone?

É claro que já estou a procurar por um substituto para você meu querido smartphone. Mas depois desta ruptura decidi estabelecer novas regras para esta relação. Digamos que terei uma relação mais livre, mais aberta com meu próximo celular. Primeira regra: enquanto eu estiver vivendo, trabalhando ou com minha família, você descansará na bolsa. Teremos horários determinados para nos encontrarmos. Nestes momentos prometo estar só com você, absorvendo e utilizando toda informação e tecnologia que você me proporciona. Para que nosso relacionamento dê certo é preciso que você entenda que restabelecerei antigas amizades, dentre elas, os livros, a TV, o cinema, amigos de carne e osso, o rádio, a câmera fotográfica, o computador e muitas, muitas horas vividas de forma inteira, zen. Sabe aquele papo sobre viver mindfullness que você sempre rejeitou e me privou de experimentar? Pois então. Nestes três dias este foi meu principal aprendizado.

Don´t take it personal meu querido celular. Esta convivência mais leve nos fará muito bem. E quem sabe não disseminamos esta nova experiência e fazemos do mundo um local menos cabisbaixo, mais presente, mais inteiro, mais feliz....?


 
 
 

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