A abóbora e o bonsai
- Juliana Doyle
- 18 de out. de 2015
- 2 min de leitura
Virgiana que sou, tenho aprendido na marra o quanto meu perfeccionismo têm tornado pesada a minha vida. Quero o trabalho perfeito que me proporcione desafio intelectual, horário compatível com o dos meus filhos, remuneração no mínimo digna do meu esforço e da minha formação, alimentação impecavelmente orgânica, nutritiva e saborosa para minha família, casa linda e organizada, meus filhos sempre felizes e cumprindo suas rotinas com perfeição, flores e plantas bem cuidadas dentro de casa, organização quase militar para ir a todos os aniversários, almoços de família, visitar parentes, responder com entusiasmo e muitos emoticons todas as mensagens de cada grupo de whatsapp, estudar, ler, estar constantemente me aprimorando, ser uma pessoa interessante, bem informada e aparentemente feliz. Resultado: aos poucos venho me (vamos nos?) tornando insuportavelmente mal humorada e esgotada. Constantemente angustiada. Pobre marido...
Outro dia meu caçula me disse que não gostava da escola. Meu marido, prático e pé no chão como ele só, já foi logo respondendo: “É claro que ele está mentindo. Ele simplesmente não quer ir hoje.” Já eu, passional, emotiva e em constante estado de taquicardia materna já fui logo procurando um espacinho na agenda para marcar uma reunião com a diretora da escola, professora, monitora e quantos membros da equipe se dispusessem a conversar comigo. Quero saber se lá ele brinca, corre, toma sol, se está feliz, se come, se faz xixi... Deixo-o na escola e, já em prantos no carro, lembro que me esqueci de avisar a professora que ele ainda não tinha lanchado. Tive o ímpeto de desligar o carro e voltar à salinha dele, mas, felizmente me contive.
Nesses momentos procuro lembrar-me de minha mãe, que tendo sido criada em fazenda junto a outros doze irmãos hoje é uma mulher linda, realizada profissionalmente, ex-esposa dedicada (essa é nova, né?) mãe e avó amorosíssima... (Pai, você também é um excelente ex-marido. Não precisa ficar com ciúmes). Ao ver o esforço homérico que fazemos para educar nosso filhos no mundo contemporâneo ela faz a seguinte analogia. “Tão diferente.... lá em casa fomos criados como abóboras.” Ou seja, deixa no sol , dá uma regadinha e cada um vai tomando seu formato, sua cor, atingindo seu ápice. Umas saem mais coradas, robustas, outras mais acanhadas, pálidas, mas cada uma com sua personalidade e simplesmente assim a vida vai fluindo, acontecendo. Já nós super mães da geração X criamos nossos pequenos Bonsais, lindos, saudáveis, bilíngües, à custa da nossa saúde mental e física, e até do nosso casamento, algumas vezes.
Não é fácil ficar alheia à enxurrada de informações que nos encharca a cada minuto ditando regras sobre como cuidar, como educar, como alimentar, como dormir. Dia desses encontrei um amigo que carregava sua nenenzinha no colo e mais parecia uma estátua (o pai, no caso). Mal piscava. A justificativa: “Estou ensinado-a a dormir sozinha. Ela não pode perceber que está no meu colo. Qualquer movimento é fatal”. Hein??? Que mundo é esse gente!!!??? Vamos fazer um voto à leveza. Eu estou precisando. Imagino que você também.
Comments